sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Renascimento do Cinema Nacional



“O obvio só é obvio para mentes esclarecidas” já disse alguém.

Acontece que contar a história do Renascimento do Cinema começando por Central do Brasil, não é contar história, é apenas enxergar o que está a mostra, em voga.

O renascimento do cinema vai além... ou melhor, começa bem antes, em 1994 com um filme chamado “Alma Corsária”. Dirigido por Carlos Reichenbach, o filme retrata o que propõe: alma, sentimento, essência de vida com aventura, peregrinação e busca de sentido para viver.

É interessante o modo como Carlos retrata de forma peculiar e real as experiências da periferia.

Há no cinema novo um quê de arte periférica e intelectual. Ao mesmo tempo em que a massa é retratada a elite é beneficiada...Há uma miscelânea de inspirações e motivações e escolas que chamam a atenção da mídia, explorando assim o lado mais humano do “dono”.

A música também assume o papel de relevância no Cinema Novo, ela participa da trama dos filmes como uma personagem, há graça, arte, mensagens codificadas e assuntos descobertos com a presença marcante da trilha escolhida pelos diretores.

Em “Alma Corsária” ela conduz o desenvolvimento completo das personagens e delimita o espaço de cada um.

Seja no samba, no regaae, no sertanejo... enfim, independe do estilo musical, a música passa de acessório para elemento essencial.

Em “Bananas is my business”, 08/95 (calma não estou me confundido), Helena Solberg e David Meyer retratam o descuido dos brasileiros, isso mesmo, nós com o que é nosso.

O filme é bem mais um retrato do que fizeram da pequena-grande mulher, Carmem Miranda, tomam um cuidado especial em não subestimar o talento de Carmen, tão reconhecido lá fora e desprezado aqui em território nacional.

Mostra de forma simples e objetiva que a situação de racismo parte de nós brasileiros e que acaba se derramando para os EUA, já que em época de Globalização e capitalismo, é isto que ocorre.

O filme-documentário é rico em detalhes e realidade.

Já a fotografia de “Yndio do Brasil”,11/95, vale a pena assistir. Numa sucessão de colagens e sons desconexos os índios são vistos sob a forma que nós os vemos, com preconceitos maquiados em letras de música, poemas e, principalmente MPB,

O diretor Silvio Back, não utiliza a linguagem falada, as imagens dizem por si, há ofensas diretas ao Marechal Rondon que tinha o lema: “Morrer se preciso for, matar nunca.”

Silvio deixa evidente que integrando os índios á civilização Rondon os mata. Back diz ter assistido mais de 700 filmes entre nacionais e internacionais e documentários e recortes de jornal, vasculhou a cinemateca brasileira e americana, e para montar essa seleção de imagens levou 3 anos.

Para os que acompanham superficialmente o cinema nacional, o Renascimento começa aqui, com “O Quatrilho”, 02/96, filme de Fábio Barreto, e que traz de volta o público ás salas grandes. Contando a história de dois casais que se correlacionam entre si e com Patrícia Pillar e Glória Pires encabeçando o elenco, não há quem resista, os dois atores que acompanham Alexandre Paternost e Bruno Campos, são sofríveis, parecem ter vindo de uma novela onde são os galãs, não passam disto.

O filme é muito bem fotografado e cheio de lindas paisagens, é notório o salto que como brasileiros damos desde a época das pornochanchadas, mas ainda é um paralelo do “padrão globo de qualidade”.

Um filme pouco aclamado pela mídia, mas de um conteúdo fantástico é “Terra Estrangeira” 09/95, de Walter Salles e Daniela Thomas, com um elenco fora de série: Fernanda Torres (que está completando 20 anos de carreira), Alexandre Borges, Laura Cardoso, Luis Melo e participação especial de um ator português: João Lagarto.

Há no enredo do filme uma mistura de estilos, e isto faz com que ele não se torne cansativo, e mesmo com tantos diálogos e pensamentos filosóficos a cerca da família, ou da procura dela, de um páis...o filme é interessante sob este aspecto de procura da identidade de cada ser humano, independente de sua realidade social, familiar, religiosa... cada um procura se encontrar.

Com largueza agrada com o arrojo visual e sonoro, o filme é de grande orgulho para quem gosta de bons trabalhos.

Há uma semana a rede Bandeirantes exibiu o “Como nascem os anjos” de agosto de 96 e dirigido por Murilo Salles ( que também já tem 2 longas em seu currículo: “Nunca fomos tão felizes” e “Faca de dois gumes”).

Esse terceiro não é bom, não diz a que veio, apesar de tratar de um tema social, é pouco inteligente e monótono.

É bem verdade que o trio “parada dura” arranca risadas, por serem do Morro de santa Marta e que sem experiência alguma invadem uma casa com a prerrogativa de “fazer xixi” e mantém refugiados o pai e a filha, donos da casa que por coincidência são gringos, a trama do filme se resume na fome do seqüestrador “meia- boca”, que não sai do sofá e só pede um lanchinho para a jovem americana.

Para absorver a temática social é necessário muita calma e pipoca...

Entre um filme e outro, encontramos “Um céu de estrelas”, de forma nova sem nostalgia alguma, ou produto de marketing, o filme que se passa dentro de uma casa e não atrai por seu estilo, enredo ou elenco, mas sim por proporcionar ao público uma linguagem real de casais e descasais.

O filme é de Tata Amaral e é de 1986. Há muita lágrima, sangue e sêmen, a típica trilogia brasileira.

Em 1997 o filme “Bocage - O triunfo do Amor” de Djalma Limongi Batista (nunca ouviu falar?), é um deleite para alma. Bocage é uma invocação a liberdade. Após o choque inicial causado pela surpresa de encontrar quase uma ‘trupi” inteira de teatro com cenários, movimentos, linguagem e declamações de poemas(o que é comum nos tablados), há uma satisfação em participar de cada cena transformada em cinema de primeira.

Há uma liberdade narrativa incrível, o que também o torna mais atrativo.
 

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