“O obvio só é obvio para mentes esclarecidas” já disse alguém.
Acontece que contar a história do Renascimento do Cinema
começando por Central do Brasil, não é contar história, é apenas enxergar o que
está a mostra, em voga.
O renascimento do cinema vai além... ou melhor, começa
bem antes, em 1994 com um filme chamado “Alma Corsária”. Dirigido por Carlos
Reichenbach, o filme retrata o que propõe: alma, sentimento, essência de vida
com aventura, peregrinação e busca de sentido para viver.
É interessante o modo como Carlos retrata de forma
peculiar e real as experiências da periferia.
Há no cinema novo um quê de arte periférica e
intelectual. Ao mesmo tempo em que a massa é retratada a elite é
beneficiada...Há uma miscelânea de inspirações e motivações e escolas que
chamam a atenção da mídia, explorando assim o lado mais humano do “dono”.
A música também assume o papel de relevância no Cinema
Novo, ela participa da trama dos filmes como uma personagem, há graça, arte,
mensagens codificadas e assuntos descobertos com a presença marcante da trilha
escolhida pelos diretores.
Em “Alma Corsária” ela conduz o desenvolvimento completo
das personagens e delimita o espaço de cada um.
Seja no samba, no regaae, no sertanejo... enfim, independe
do estilo musical, a música passa de acessório para elemento essencial.
Em “Bananas is my business”, 08/95 (calma não estou me
confundido), Helena Solberg e David Meyer retratam o descuido dos brasileiros,
isso mesmo, nós com o que é nosso.
O filme é bem mais um retrato do que fizeram da
pequena-grande mulher, Carmem Miranda, tomam um cuidado especial em não
subestimar o talento de Carmen, tão reconhecido lá fora e desprezado aqui em
território nacional.
Mostra de forma simples e objetiva que a situação de
racismo parte de nós brasileiros e que acaba se derramando para os EUA, já que
em época de Globalização e capitalismo, é isto que ocorre.
O filme-documentário é rico em detalhes e realidade.
Já a fotografia de “Yndio do Brasil”,11/95, vale a pena
assistir. Numa sucessão de colagens e sons desconexos os índios são vistos sob
a forma que nós os vemos, com preconceitos maquiados em letras de música,
poemas e, principalmente MPB,
O diretor Silvio Back, não utiliza a linguagem falada, as
imagens dizem por si, há ofensas diretas ao Marechal Rondon que tinha o lema:
“Morrer se preciso for, matar nunca.”
Silvio deixa evidente que integrando os índios á
civilização Rondon os mata. Back diz ter assistido mais de 700 filmes entre
nacionais e internacionais e documentários e recortes de jornal, vasculhou a
cinemateca brasileira e americana, e para montar essa seleção de imagens levou
3 anos.
Para os que acompanham superficialmente o cinema
nacional, o Renascimento começa aqui, com “O Quatrilho”, 02/96, filme de Fábio
Barreto, e que traz de volta o público ás salas grandes. Contando a história de
dois casais que se correlacionam entre si e com Patrícia Pillar e Glória Pires
encabeçando o elenco, não há quem resista, os dois atores que acompanham
Alexandre Paternost e Bruno Campos, são sofríveis, parecem ter vindo de uma
novela onde são os galãs, não passam disto.
O filme é muito bem fotografado e cheio de lindas
paisagens, é notório o salto que como brasileiros damos desde a época das
pornochanchadas, mas ainda é um paralelo do “padrão globo de qualidade”.
Um filme pouco aclamado pela mídia, mas de um conteúdo
fantástico é “Terra Estrangeira” 09/95, de Walter Salles e Daniela Thomas, com
um elenco fora de série: Fernanda Torres (que está completando 20 anos de
carreira), Alexandre Borges, Laura Cardoso, Luis Melo e participação especial
de um ator português: João Lagarto.
Há no enredo do filme uma mistura de estilos, e isto faz
com que ele não se torne cansativo, e mesmo com tantos diálogos e pensamentos
filosóficos a cerca da família, ou da procura dela, de um páis...o filme é
interessante sob este aspecto de procura da identidade de cada ser humano,
independente de sua realidade social, familiar, religiosa... cada um procura se
encontrar.
Com largueza agrada com o arrojo visual e sonoro, o filme
é de grande orgulho para quem gosta de bons trabalhos.
Há uma semana a rede Bandeirantes exibiu o “Como nascem
os anjos” de agosto de 96 e dirigido por Murilo Salles ( que também já tem 2
longas em seu currículo: “Nunca fomos tão felizes” e “Faca de dois gumes”).
Esse terceiro não é bom, não diz a que veio, apesar de
tratar de um tema social, é pouco inteligente e monótono.
É bem verdade que o trio “parada dura” arranca risadas,
por serem do Morro de santa Marta e que sem experiência alguma invadem uma casa
com a prerrogativa de “fazer xixi” e mantém refugiados o pai e a filha, donos
da casa que por coincidência são gringos, a trama do filme se resume na fome do
seqüestrador “meia- boca”, que não sai do sofá e só pede um lanchinho para a
jovem americana.
Para absorver a temática social é necessário muita calma
e pipoca...
Entre um filme e outro, encontramos “Um céu de estrelas”,
de forma nova sem nostalgia alguma, ou produto de marketing, o filme que se
passa dentro de uma casa e não atrai por seu estilo, enredo ou elenco, mas sim
por proporcionar ao público uma linguagem real de casais e descasais.
O filme é de Tata Amaral e é de 1986. Há muita lágrima,
sangue e sêmen, a típica trilogia brasileira.
Em 1997 o filme “Bocage - O triunfo do Amor” de Djalma
Limongi Batista (nunca ouviu falar?), é um deleite para alma. Bocage é uma
invocação a liberdade. Após o choque inicial causado pela surpresa de encontrar
quase uma ‘trupi” inteira de teatro com cenários, movimentos, linguagem e
declamações de poemas(o que é comum nos tablados), há uma satisfação em
participar de cada cena transformada em cinema de primeira.
Há uma liberdade narrativa incrível, o que também o torna
mais atrativo.
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